segunda-feira, 23 de abril de 2012

Parte 1: O Balcão da Miséria

Seria um dia normal, se não fosse um dia de final de mês. Aonde até os mais bonitos escravos que vestem suas roupas parceladas em 12x no cartão Renner, ficam sem dinheiro. O nome desse animal que compra tudo de má qualidade e  parcelado é Empregado.

O objetivo básico do trabalho é ter pelo menos o que comer (a faculdade hoje em dia também tem esse papel, garantir que você não vai passar fome). E nessa história de ter o que comer, me lembro como se fosse hoje de um dia interessante que a minha ficha começou a cair: "Ser empregado é morrer de fome ou comer merda". Isso me veio a cabeça logo que dei a primeira mordida no pastel mais ensebado de toda a minha vida, recheado por uma carne tão nojenta que parece que pegaram de um cão morto, desses pobres coitados que morrem esmagados no asfalto.


Pastel, uma delícia de pobre.


Quando eu peguei aquela porcaria de pastel no conclamado café-da-manhã de pobre chamado "Trio Viçosa", que consiste em dois pastéis escrotos e um caldo de cana, eu fiquei com nojo. Mas nojo de pobre é frescura no final do mês, você tem que abocanhar e pronto, é o que você está merecendo, pobre filho da puta. Porquê cozinhar pra pobre é bem fácil, faça uma gororoba que vá tapar a fome de alguma forma por 8h (até a hora de pegar o Cospe-grosso do almoço) e você será um empresário feliz.

Eu teria sido feliz, se aquela merda de pastel infeliz prestasse. E o pior é que eu sou um tipo de pobre esquisito, com cara de rico. Me visto como um pobre, mas tenho cara de rico. Assim sendo, vieram três mendigos pedir que eu pagasse um pastel. Agora, pedir que um empregado, gordo sedentário, em final de mês, pague um pastel, é a melhor forma de ouvir um NÃO.


Aquele cheiro de fumaça de motor de tudo que é lado, aquele cheiro particular de ônibus que todo pobre carrega nas calças, me fizeram olhar de outra forma: CARALHO, MAS QUE PORRA É ESSA?!

Naquele lugar, disputavam espaço no balcão ensebado diversos cidadãos comuns da vida, desses que se vê em semáforos ou atirados em botecos que as donas são velhas barrigudas e que usam camisas decotadas. Gente que vai na fila do INSS e espera sem reclamar. Um tipo de cidadão comum. Um tipo de cidadão que eu não queria ser.

Afinal, porquê diabos eu tenho que ser isso, e não aquele galã da propaganda antiga da Sorriso que pegava uma gostosa de jet ski e saia no meio do oceano azul? Porquê eu teria que ser isso ao invés de ser um desses caras que bebem boas bebidas e não reclamam da conta?

Ah mundo de empregado de merda, vá se foder, porquê eu vou é virar empresário.


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